Discriminação e Barreiras ao Acesso ao Serviço Nacional de Saúde Percecionados por Pessoas Trans

Autores

  • João Rodrigues Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Universidade do Porto. Porto, Portugal
  • Carolina Lemos Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Universidade do Porto. Porto, Portugal; UnIGENe, IBMC ‑ Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, Universidade do Porto, Porto, Portugal. https://orcid.org/0000-0001-9803-9584
  • Zélia Figueiredo Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar. Universidade do Porto. Porto, Portugal; Unidade de Consulta Externa – Consulta de Sexologia. Hospital Magalhães Lemos, Porto, Portugal

DOI:

https://doi.org/10.51338/rppsm.2020.v6.i3.152

Palavras-chave:

Acesso aos Serviços de Saúde, Disparidades em Assistência à Saúde, Pessoas Transgénero

Resumo

Introdução: A população trans, que necessita de tratamentos médicos, cirúrgicos e psicológicos específicos pela sua condição, é confrontada com discriminação, preconceito e estigma, na procura de serviços de saúde, que limitam o seu acesso. Este estudo pretende avaliar barreiras no acesso à saúde, por esta população, em três ambientes distintos do Serviço Nacional de Saúde (urgência, medicina geral e familiar e cirurgia).

Material e Métodos: Realizou‑se um estudo transversal, não controlado, com recurso a entrevista a 71 pessoas trans, após consulta de Sexologia. Um modelo de entrevista foi elaborado pelos autores, adaptando questões do Trans Pulse Project e do 2015 US Transgender Survey.

Resultados: Metade dos trans que recorreram aos três contextos estudados percecionaram discriminação por um profissional de saúde. O uso de linguagem preconceituosa foi o episódio de perceção de discriminação mais frequente e o serviço de urgência o local onde ocorreu com mais frequência. Encontramos relação entre episódios de perceção de discriminação em medicina geral e familiar, com o desconforto sentido em abordar saúde trans com o médico de família.

Discussão: A discriminação percecionada por pessoas trans foi semelhante à verificada na literatura, em contexto de urgência e medicina geral e familiar. O incumprimento e desconhecimento de guidelines de boas práticas clínicas, por profissionais de saúde, à semelhança da literatura, podem constituir barreiras de acesso a cuidados de saúde, na população estudada.

Conclusão: Verificamos que existe a necessidade de estudar, a nível nacional, o impacto da discriminação na população trans, bem como de avaliar e promover a formação de profissionais de saúde nesta área.

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Publicado

2020-12-30

Como Citar

Rodrigues, J., Lemos, C., & Figueiredo, Z. (2020). Discriminação e Barreiras ao Acesso ao Serviço Nacional de Saúde Percecionados por Pessoas Trans. Revista Portuguesa De Psiquiatria E Saúde Mental, 6(3), 98–108. https://doi.org/10.51338/rppsm.2020.v6.i3.152

Edição

Secção

Artigo Original